Texto de orientação

Ressonâncias dos quatro primeiros seminários preparatórios

por Bernardo Micherif Carneiro


O que ressoa fora do corpo?

A proposta desse seminário preparatório é abordar as ressonâncias dos quatro seminários que o precederam. Lacan (2007) situa o termo ressonância a partir do real, como aquilo que ressoa da intromissão da linguagem no corpo.

Podemos nos indagar se a própria proposta de nossa Jornada já não implica uma ressonância de um trabalho que se realizou na Jornada de 1999, Há algo de novo nas psicoses. Acrescentar o termo “ainda” ao título nos indica que, naquela época, abordamos não tudo sobre o tema. Que podemos dizer sobre isso ainda um pouco mais.

Naquele momento, a Jornada ressoava o modo como o debate sobre o Outro que não existe havia incidido sobre o campo das psicoses, promovendo uma renovação que culminou no conceito de psicose ordinária. A Jornada dedicou-se às consequências da forclusão do significante, distinguindo sua incidência sobre o pai e sobre o falo, o que se desdobrava em um debate sobre novas modalidades de desencadeamento, não mais referidas ao P0, mas ao f0.

Mas poderíamos dizer que esse nosso reencontro com o tema seria um girar em círculos? Talvez seja essa a perspectiva, se considerarmos que não se visa um progresso, mas que pretendemos estruturar melhor um impasse lógico que o tema nos coloca, o que poderia fazer surgir algo de novo, uma ressonância.

Nesse sentido, minha proposta não será fazer série com os seminários preparatórios anteriores, mas retomá-los para tentar localizar um campo de investigação em torno do qual estamos girando há alguns meses. Por isso, não me refiro a quatro questões distintas, mas a apenas uma que tem provocado trabalho.

 

O corpo e o fora do corpo

No primeiro seminário preparatório, destaco a ressonância que a abertura teve no debate subsequente. Uma pergunta de Simone Souto dirigida ao texto de Helenice de Castro nos oferece uma primeira pista. Simone retoma o caso abordado por Helenice. Trata-se da apresentação de paciente da senhorita Boyer, realizada por Lacan em 1976. A paciente se apresenta como um vestido pendurado no varal, sem um corpo que pudesse preenchê-lo. Uma imagem do corpo sem a incidência do real do gozo. Por isso, a paciente afirma: “sou interina de mim mesma”. E acrescenta: “Não sei onde estou, estou em todos os lugares.”

Simone contrapõe esse caso à cena da surra mencionada por Joyce em Um retrato do artista quando jovem. Após a surra, Joyce constata que seu corpo se esvaiu como uma casca, o que faz Lacan concluir que o que sai fora é o imaginário do corpo.

Com esse paralelo entre dois exemplos, a pergunta de Simone destaca uma distinção de dois registros do corpo, imaginário e real. Simone termina por indagar se essa distinção indicaria diferentes possibilidades de invenção de um grampo.

No segundo seminário preparatório, Jésus Santiago indaga no texto de Ram Mandil uma problemática que desdobra a questão precedente: o corpo sem órgãos em Antonin Artaud. Para liberar seu corpo do juízo de Deus, Artaud se dedica a fazer um corpo sem órgãos: “(…) amarrem-me se quiserem, / mas não existe coisa mais inútil que um órgão. / Quando tiverem / conseguido fazer um corpo sem órgãos,/ então o terão libertado dos seus automatismos/ e devolvido sua verdadeira liberdade”.

Jésus interroga se o corpo sem órgãos de Artaud seria uma invenção sinthomática, mas diz em seguida: “É bem provável que não; porém, é nítido que se pode resgatar em Artaud tanto os índices da inconsistência do corpo como sua tentativa desesperada, via o corpo-sem-órgãos, de fazer um corpo.

Retomo a proposta de Jésus da inconsistência do corpo em termos de fora do corpo. Para Artaud, a rejeição do gozo inútil dos órgãos parece ser decisiva para o corpo sair fora. As consequências disso podem ser vistas em uma referência de Musso Greco, no site da Jornada, em que recupera um trecho de Artaud: “Eu não tenho eu, pois só há eu e ninguém/ sem reencontro possível com o outro, / esse que eu sou é sem diferenciação nem oposição possível, / é esta intrusão absoluta de meu corpo, em todo lugar.”

A ideia do corpo em todo lugar se aproxima do que diz a senhorita Boyer, “estou em todos os lugares”. Contudo, não verificamos no caso desta os índices de uma fragmentação corporal que constatamos em Artaud. Mesmo que se comprove a inconsistência do corpo em ambos os casos, não podemos afirmar que as consequências são as mesmas. Há uma distinção no modo como cada um deles se arranja com o corpo que sai fora.

No terceiro seminário preparatório, retomo o material clínico apresentado por Elisa Alvarenga para investigarmos em que medida ele faz ressoar a questão do corpo e do fora do corpo. Primeiro, o caso Gaston, sujeito que é preso e, após ser atendido como louco infrator, identifica-se a seu ato e inicia um consumo intenso de drogas. Após um período em acompanhamento, destaca-se a arte produzida por Gaston e ele passa a circular como artista em atividades culturais. Retoma os cuidados com o corpo, estabiliza-se e reduz o uso de drogas. Por que a arte nesse caso tem efeitos sobre o corpo? É possível dizer que ela localiza o fora do corpo?

No segundo caso, Samuel, um menino de 8 anos, no primeiro encontro com a analista, faz um desenho. Trata-se “da garagem de um prédio onde há um porteiro que não vê o que a câmera do prédio vê: uma sombra que se esgueira pelo muro esfaqueia e esquarteja alguém, deixando um rastro de pedaços de corpo e muito sangue.” Após abordar um corpo espalhado por toda parte, Samuel introduz outro elemento. Fala sobre um outro desenho que fez: “um ser parasita, uma espécie de molusco que entra nos corpos das pessoas transformando-as em monstros, que morrem junto com o parasita.” O fora do corpo que o desenho localiza faz surgir uma questão: por que é repreendido na escola por não conseguir ficar parado? Tenta localizar esse corpo intruso em um colega que ele conclui que tem um ET no corpo. Quando essa localização deixa de funcionar, faz um desenho do Bart Simpson e o apresenta à analista como um menino com um lado normal e outro realista. Nesse lado realista, introduz as coisas estranhas que uma criança faz. Um sujeito que parece dedicado a localizar na imagem do corpo a estranheza que o fora do corpo comporta.

Passando ao quarto seminário preparatório, Ludmilla Féres introduz uma referência teórica que considero que pode servir de bussola para essa investigação sobre o corpo e o fora do corpo. Ela recupera, nas notas de Miller ao final do Seminário 23, O Sinthoma, um comentário sobre como o Um e o vazio formam um conjunto. Miller conclui: “Trata-se de dizer, simplesmente, que o corpo existe como saco de pele, vazio, fora e ao lado de seus órgãos” (LACAN, 2007, p. 213).

Tomo essa referência de Ludmilla como orientação para uma investigação da qual tento destacar as ressonâncias de nosso percurso em direção à Jornada.

 

Há algo de novo no simbólico

No Seminário 23, O Sinthoma, Lacan (2007) deixa claro para que se serve do nó borromeano:

O caráter fundamental dessa utilização do nó é ilustrar a triplicidade que resulta de uma consistência que só é afetada pelo imaginário, de um furo como fundamental proveniente do simbólico, e de uma ex-sistência que, por sua vez, pertence ao real e é inclusive sua característica fundamental (p. 36).

Ele indica que o nó borromeano é um artifício que lhe serve para elucidar três conceitos fundamentais: furo, consistência e ex-sistência. A partir dessa triplicidade, podemos falar de uma renovação dos conceitos de simbólico, imaginário e real. Abordar essas instâncias como separadas umas das outras é o que permitiu a Lacan (2007) dizer que “é de suturas e emendas que se trata na análise” (p. 71).

Mas de que novidade se trata no simbólico? Este não é apresentado como uma ordem, como uma articulação significante, mas é reduzido a um girar em círculos em torno de um furo. Lacan escreve esse furo não como objeto a, mas com o matema Ⱥ. Isso permite a Lacan fazer uma distinção entre o furo, concernente ao simbólico, e o vazio, que define o imaginário.

Abordar o furo a partir da inexistência do Outro e tomá-lo como base de sustentação do simbólico indica-nos que a utilidade do simbólico não se decide pelo laço com o Outro, mas pelo modo como o girar em círculos pode circunscrever o real como impossibilidade lógica. É da gravitação em torno desse impossível que pode se extrair algo do sinthoma.

Nessa perspectiva, Lacan situa o falo como o que promove a conjunção do simbólico com o real, da fala com o gozo. O falo é o que introduz na fala um gozo parasitário. Por isso, o falo não se coloca apenas como um significante que promove a ordem simbólica, mas se destaca como o verificador do furo no real. E Lacan (2007) acrescenta: “É preciso ainda (…) que haja apenas ele para verificar esse real” (p 114). Isso abre a questão sobre qual a utilidade do Nome-do-pai, já que o falo não se conjuga necessariamente a essa referência.

No Seminário 20, Mais-ainda, Lacan havia introduzido o gozo fálico como um gozo fora do corpo. Isso pode ser demonstrado com o nó borromeano na medida em que o falo opera fora do círculo do imaginário do corpo. Será por isso que, ali onde o falo está foracluído, é o imaginário do corpo que tende a cair fora? Poderíamos dizer que é isso que justificaria o reencontro com o título “Há algo de novo nas psicoses?” Se na Jornada de 1999 havia uma investigação que girava em torno da referência ao f0, nossa investigação atual parece gravitar em torno da referência ao que acontece com o imaginário do corpo. Ele cai fora? Ele ganha consistência? Os seminários preparatórios oferecem pistas de como podemos nos conduzir nessa investigação rumo à Jornada.

 

Há algo de novo no imaginário

O imaginário do corpo se isola como um círculo depurado do girar em círculos do simbólico. Não se trata mais do imaginário subordinado ao simbólico para a produção de sentido. Trata-se de um imaginário que se decanta do furo que determina o funcionamento simbólico. Com isso, a noção de consistência, que até então era utilizada para abordar a lógica simbólica, passa a ser deslocada também para o registro do imaginário. A questão não recai sobre a consistência da ordem simbólica, mas sobre a consistência do corpo.

Mas o que é a consistência do corpo? É o que Lacan tentou ilustrar com o saco vazio. O corpo é o vazio que existe como unidade. O saco vazio é aquilo que faz continente, faz borda que dá consistência ao corpo, que mantêm junto o corpo como Um.

O círculo do corpo é em torno do qual gira o pensamento. Quando se pensa, é do corpo que se trata. Mas o que agita o pensamento? A consistência do corpo não se faz sem que se coloque um problema sobre o que fazer com o gozo dos órgãos. Miller aponta: “O corpo sem órgãos é o corpo-saco.” (LACAN, 2007, p. 213). A intrusão dos órgãos faz furo no corpo-saco, introduz a pulsão e seus orifícios e, nessa medida, faz obstáculo à expansão do imaginário concêntrico. O saco vazio não existe sem seus órgãos. Por isso, Lacan diz que “o corpo, nós o sentimos como pele, retendo em seu saco um monte de órgãos.” (p. 63). Contudo, persiste a questão: como manter juntos o corpo e seus órgãos?

 

Há algo de novo no real

A partir do Seminário 23, O Sinthoma, podemos distinguir um real freudiano de um real lacaniano. O real freudiano é o impossível, aquele que, apesar de inacessível, tem uma estrutura lógica ordenada pelo simbólico. É onde Lacan alojou o seu conceito de objeto a. É um real que retorna sempre ao mesmo lugar, um real a serviço da compulsão à repetição. Lacan (2007) afirma: “A pulsão de morte é o real na medida em que ele só pode ser pensado corno impossível” (p. 121). Isso é o que constitui as propriedades do terceiro círculo do nó borromeano.

O real que Lacan propõe não está circunscrito no furo do simbólico. Lacan (2007) diz que a forclusão do Nome-do-pai é algo mais leve e que há uma forclusão mais radical. Não se trata do real como efeito da forclusão do significante, mas de um real que forclui o sentido, que se destaca desabonado do inconsciente. Quando Lacan (2007) afirma que o real é sem lei, refere-se a um real depurado da ordem simbólica.

Isso permite distinguir a extimidade, que está concernida na topologia moebiana do inconsciente, e a ex-sistência, como um real que subsiste fora do sentido. Só é possível acessar este real lacaniano como um pedaço do real, o que se depreende como sinthoma, o quarto elemento do nó borromeano. É o que permite a Lacan (2007) afirmar: “quanto ao que chamo de real, eu inventei, porque se impôs a mim” (p. 128).

Se o real freudiano introduz uma impossibilidade lógica que mantém separados simbólico e imaginário, o real lacaniano se depura como uma contingência, um pedaço de real que se inscreve com a função de manter juntos os elementos do nó. Lacan (2007) afirma o real da ex-sistência como sua resposta sintomática à descoberta do inconsciente por Freud. É possível isolar o que ex-siste como resposta na medida em que, frente a uma impossibilidade lógica, o sentido inconsciente se reduz ao semblante.

 

Para que serve Um órgão?

De que modo o conceito de ex-sistência nos permite retomar a dimensão do fora do corpo que ressoa dos seminários preparatórios anteriores? Para elucidar essa questão, recuperamos a noção de órgão como Lacan a abordou. O órgão é um índice do fora do corpo no ensino de Lacan, seja quando se referiu à libido no mito da lamela, ou quando se dedicou ao gozo fálico, ou também quando apreende a linguagem como órgão.

Nesse sentido, o órgão em Lacan não se reduz a um componente do corpo biológico. Trata-se de um elemento forjado para ocupar a função do fora do corpo em sua dimensão pulsional. O órgão em questão aqui é um acontecimento de corpo, uma marca do encontro de lalíngua com o corpo. A incidência de lalíngua sobre o corpo produz uma marca ilegível, um gozo foracluído do sentido que se isola como um pedaço do real.

Em O aturdito (2003), Lacan formula a relação entre o corpo e seus órgãos de um modo que elucida nossa questão:

(…) um animal, d’estabitat [stabitat] que é a linguagem, por abitalo [labiter] que para seu corpo cria um órgão – órgão que, por assim lhe ex-sistir, determina-o por sua função, desde antes que ele a descubra. É justamente por isso que ele fica reduzido a descobrir que seu corpo não é sem outros órgãos, e que a função de cada um deles lhe cria problemas – coisa pela qual se especifica o dito esquizofrênico ao ser apanhado sem a ajuda de nenhum discurso estabelecido. (p. 475)

É decisivo como Lacan especifica nessa passagem duas perspectivas distintas dos órgãos. Há um órgão que se cria, que ex-siste ao corpo na medida em que este corpo habita a linguagem. E é a partir da criação desse órgão que o falasser apreende um corpo dotado de outros órgãos cuja função lhe cria enigma. Por isso, Miller (2003) afirma: “somos todos esquizofrênicos” (p. 7). O falasser está às voltas com os múltiplos órgãos que fragmentam a consistência do corpo e inventa Um órgão fora do corpo para fazer o corpo ex-sisitr como Um sozinho, fora do discurso.

Lacan coloca a criação desse órgão ex-sistente como condição para que o falasser se descubra dotado de um corpo cujo gozo lhe coloca a questão sobre a utilidade a se atribuir a ele. O órgão que ex-siste é um “instrumento de captura ou de apreensão” (LACAN, 2007, p. 31). O órgão como pedaço do real é um resíduo da consistência do corpo, é o que ex-siste ao saco vazio e, com isso, constitui a função do nó. A partir da depuração desse órgão é que se pode abordar o corpo como próprio, como aquele que o falasser crê que tem.

O que antes era colocado em termos de relação com o Outro, reduz-se à relação com o corpo. Ali onde se afirma “Não há relação sexual”, depreende-se “Há sinthoma”.   Onde se abordava o amor ao pai, Lacan introduz a referência ao amor-próprio. Este amor implica que a adoração é a relação do falasser com o corpo imaginário, é o modo como ele se apropria do corpo como consistência mental.

Mas, se essa consistência sai fora a todo instante, é exatamente porque, para que o corpo possa reter em seu saco um monte de órgãos, é preciso que se depure o nó, esse gozo não reabsorvível que ex-siste fora do corpo. O órgão ex-sistente é o que amarra os órgãos dentro do saco vazio.

 

Responder pelo corpo que se tem

Miller (2013) se referiu ao órgão fora do corpo como peça avulsa. Essa peça subsiste extraída da consistência do corpo que lhe atribuiria uma função. Na medida em que essa peça se separa do todo, sua função torna-se enigmática. Mas, “no momento em que já não serve para nada, pode ser submetida a mil e uma utilizações” (MILLER, 2013, p. 14). Quando o gozo do órgão se mostra inútil, este órgão pode se prestar a usos contingentes para os quais não estava feito.

Esta perspectiva faz do falasser um bricolador, alguém que se vira com um conjunto de peças diversas e heteróclitas que tem à mão. O órgão fora do corpo é o que suporta a cativação do falasser com a consistência corporal, na medida em que ele se dedica a encontrar uma função para a peça que nunca se encaixa no conjunto. Essa peça, que decide sobre a consistência do conjunto, é por estar isolada do corpo que pode se improvisar uma função para ela.

Miller (2013) indica que se trata de “conhecer a perna de pau em torno da qual o corpo de vocês se formou para escondê-la, para então dar-lhe uma função” (p. 42). Se o corpo é algo a ser capturado como uma propriedade, o falasser realiza essa apreensão a partir da identificação ao sinthoma, ao gozo como fora do corpo. O falasser faz existir um corpo para o qual o órgão fora do corpo se inscreve como um grampo, como um nó que suporta a consistência do corpo.

Mas, se essa consistência se mostra como imagem, isso exclui o nó. Por isso, Lacan aponta: “É preciso apreender essa ex-sistência e essa consistência como reais, posto que apreendê-las é o real.” (p. 19). O corpo que se tem é apreendido a partir do real que ex-siste como sinthoma.

Para se apropriar do corpo é preciso se virar com aquilo que sai fora a todo instante, extrair disso um artifício de apreensão do corpo. “Só se é responsável na medida de seu savoir-faire” (LACAN, 2007, p. 59). Só é possível responder pelo corpo que se tem na medida em que está colocado o enigma do gozo dos órgãos. Responsabilidade é decidir sobre o uso a ser dado ao órgão fora do corpo. Essa é a condição para se apropriar do corpo, dar uma função ao órgão para elevá-lo à dignidade de um sinthoma. É o que constitui a junção mais intima do sentimento de vida.

A partir dessa investigação, retomo o material clínico dos seminários preparatórios para introduzir algumas questões. Para a senhorita Boyer, que se apresenta como um vestido sem corpo, e Artaud, que faz um corpo sem órgãos, o que podemos dizer que, do corpo, resta como enigma? O que indica sobre isso a ideia, que aparece em ambos os casos, do corpo que está em todo lugar? Sobre Joyce, poderíamos dizer que experimentar seu corpo como estrangeiro foi o que decidiu sobre sua arte? Ou seja, o que acontece fora foi o que permitiu apreender o corpo a partir da escrita?

E no caso Gaston, é possível dizer que a arte ocupa a função da ex-sistência? Já o caso Samuel parece nos fornecer as pistas de qual o trabalho a ser feito para colocar o fora do corpo como elemento que decide sobre o estatuto do corpo no tratamento. Talvez poderíamos dizer que todos nós estamos às voltas com o ET que agita o corpo.

Por fim, sobre os eixos de investigação de nossa Jornada, levanto algumas questões que ressoam dessa leitura do percurso até aqui.

Eixo 1 – O mundo rumo à psicose: Como seria possível considerar a construção do mundo na psicose considerando o conceito de ex-sistência? Poderíamos afirmar que o órgão fora do corpo serviria à apreensão de um mundo?

Eixo 2 – Diagnosticar e despatologizar:  Poderíamos dizer que o órgão fora do corpo seria uma resposta da psicanálise às pretensões das neurociências de sustentar a consistência do corpo em um diagnóstico que reduz o corpo a um organismo?

Eixo 3 – As flutuações do sexo: Poderíamos abordar a clínica do transexual a partir da distinção que Lacan propõe, em O aturdito, entre o órgão que cria problemas e o órgão que ex-siste?

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, Elisa. Diagnosticar e despatologizar. Texto de orientação. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www.jornadaebpmg.com.br/2023/textos/ eixo-2-diagnosticar-e-despatologizar/ Acesso em: 24 out. 2023.

CASTRO, Helenice de. Há algo de novo nas psicoses… ainda. Texto de orientação. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www.jornadaebpmg.com.br/2023/ textos/apresentacao/ Acesso em: 24 out. 2023.

FARIA, Ludmilla. Flutuações do sexo. Texto de orientação. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www.jornadaebpmg.com.br/2023/textos/ flutuacoes-do-sexo/ Acesso em: 24 out. 2023.

GRECO, Musso. Grampo escrito. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www. jornadaebpmg.com.br/2023/grampos-escrito/ Acesso em: 24 out. 2023.

LACAN, Jacques. O aturdito. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. p. 448-497.

LACAN, Jacques. O Seminário, livro 23: o sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

MANDIL, Ram. O mundo rumo à psicose. Texto de orientação. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www.jornadaebpmg.com.br/2023/textos/eixo-1-o-mundo-rumo-a-psicose/ Acesso em: 24 out. 2023.

MILLER, Jacques-Alain. A ex-sistência. In: Opção lacaniana, São Paulo: Eólia, n. 33, jun. 2002, p. 8-21.

MILLER, Jacques-Alain. A invenção psicótica. In: Opção lacaniana, São Paulo: Eólia, n. 36, mai. 2003, p. 6-16.

MILLER, Jacques-Alain. Piezas sueltas. 1ª ed., Buenos Aires: Paidos, 2013.

MILLER, Jacques-Alain. El ultimísimo Lacan. 1ª ed., Buenos Aires: Paidos, 2014.

SANTIAGO, Jésus. Comentário sobre o Relatório “O mundo rumo à psicose”. Texto de orientação. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www.jornadaebpmg. com.br/2023/textos/eixo-1-o-mundo-rumo-a-psicose-2/ Acesso em: 24 out. 2023.

SOUTO. Simone. Grampo escrito. 26ª Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise Seção Minas Gerais: Há algo de novo nas psicoses ainda…. Disponível em: https://www. jornadaebpmg.com.br/2023/grampos-escrito/ Acesso em: 24 out. 2023.

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